Jesus Cristo, o nosso único, suficiente, necessário, indispensável SENHOR e Salvador, disse: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Não expulsamos diabos em teu nome? Não fizemos muitos feitos em teu nome? Então lhes confessarei: jamais vos conheci. Afastai-vos de mim todos, seus malfeitores” – Mt 7.22-23.
Nem todos os que estão investidos do ministério e que pregam são cristãos nem gente veramente temente e nem muito menos de coração piedoso, por ação do Espírito Santo. Também Deus Pai não pergunta por isto. A pessoa seja como quer, não obstante, o ministério é legítimo e bom. E ele não pertence ao ser humano e, sim, ao próprio Deus. O mesmo acontece em negócios seculares, conforme diz Salomão, em Pv 16.10: “A sentença de Deus está na boca do rei; [sua boca não erra no juízo]”, isto é: tudo que a autoridade superior ordena é justo e Deus o confirma. Por isso, ao julgar e punir malfeitores segundo seu ofício, isto é sentença de Deus que Ele pronuncia no alto, no céu, e quer que seja observada, embora isto seja proibido fora do ofício. Assim, a Escritura faz de todos que se encontram no ministério divino, profetas e vaticinadores, embora por sua pessoa sejam muitas vezes patifes e tiranos, como diz uma vez mais Salomão em Pv 8.15: “Através de mim reinam os reis”, isto é: sua lei e juízo são minha lei e meu juízo e tudo que fazem por força de seu ofício – desde que governem corretamente. Mas nem por isto há menos grandes patifes entre eles no mundo, que abusam tranquilamente de seu direito e de seu poder. Mesmo assim, se permanecem nos limites de seu ofício e fazem o que a lei exige, tudo é negócio de Deus. O mesmo acontece em níveis inferiores, quando uma autoridade secular ou senhor dá uma ordem a um subordinado ou quando envia seus mensageiros com ordens que a Deus agradam. Também aí se devem ouvir e honrar os mesmos, ainda que sejam patifes malvados, não por causa deles, e, sim, por causa de seu senhor, de cujo ofício e ordem são portadores, etc.
Visto que Deus, segundo e conforme Lhe apraz, procede deste modo em assuntos seculares, quanto mais quer que assim seja na vida espiritual, que seu ministério e serviço sejam efetivos e poderosos. Por isso, é puro milagre quando o pastor prega ou batiza, na medida em que preserva o Evangelho e o Batismo íntegros, não importando, no mais, se ele é crente ou mau. E embora ele mesmo, como não-cristão, não tenha o tesouro, aquele que aceita a Palavra e crê nela o recebe. Se por meio do ministério da pregação acontecem tais sinais e milagres, que por meio dele as almas são redimidas de pecado, morte e diabo, quanto mais isto pode acontecer com outros milagres exteriores menores na vida física, que não são de proveito para a alma? Por isso, aqui, é necessário distinguir entre as duas coisas, ministério e pessoa. Não se deve rejeitar o ministério por causa da pessoa, como acontece em geral – para cada ser humano piedoso temos 20 maus. Antes é preciso verificar se o ministério e os sinais se propõem e servem ao enaltecimento e à confirmação da doutrina, para que se creia em Cristo, e se isto combina com o que Ele disse, ordenou e instituiu. Se constatas que este é o caso, dize: essa pregação é autêntica, embora a pessoa seja imprestável; aceito o sinal, mas não perguntarei pela pessoa, etc. Não sendo este o caso, não deves aceitar nem crer, por maiores que sejam os sinais e por mais santa e preciosa que seja a pessoa. Na verdade, existem muitos mestres, doutores, pregadores e também pessoas investidas de outros cargos que acham que Deus deveria olhar para sua pessoa. Com isto, são seduzidos, como escrevi acima. Por esta razão, também nada lhes adiantará se, no dia derradeiro, quiserem gloriar-se e dizer: “Senhor, afinal, fizemos muitos sinais em teu nome”, pois Deus não lhes concedeu este dom por causa de sua pessoa, e, sim, por causa de seu ministério, a fim de confirmar o mesmo.
Resumindo, o caso é o seguinte: não se deve aceitar milagres nem sinais que contrariam a doutrina confirmada, por maiores e numerosos que sejam. Pois temos o mandamento de Deus, ordenando desde o céu: ouvi somente a Cristo – Mt 17.5. Além disso, também temos a advertência de que virão falsos profetas e farão grandes sinais – Mt 24.24 –, mas todos eles levam para o caminho errado, desviando de Cristo para algo diferente.
P. Airton Hermann Loeve.