Jesus Cristo doutrinou dizendo: “Pelos seus frutos os conhecereis. Acaso se podem colher uvas dos espinhos ou figos dos cardos? Assim também toda árvore boa produz frutos bons, mas uma árvore podre produz frutos ruins. Uma árvore boa não pode produzir frutos ruins, e uma árvore podre não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz frutos bons é cortada e jogada ao fogo. Por isso, em seus frutos vós os reconhecereis” – Mt 7.16-20.
Cristo quer dizer: se vocês querem conhecer os falsos mestres, pregadores, doutores, ensinadores e fazer um juízo a seu respeito, atenham-se à pura Palavra de Deus, para que vejam, com certeza, o que são os verdadeiros frutos e para poderem verificar se estão de acordo com os mesmos. Então, certamente, descobrirão que eles ensinam e propagam algo diferente do que Deus ordenou. Assim, com certeza, também poderão examinar a árvore e poderão verificar que ela não é boa. Para ilustrar isto, Cristo faz uma comparação elementar e singela: acaso podem-se colher uvas do espinheiro? ou figos dos cardos? É possível, sim, dizem eles. Por que não seria possível? – retrucam em sua narrativa autoproduzida. Pois, no seu juízo, pode-se tirar deles puro açúcar. E que suas obras são muito mais preciosas do que as que Deus ordenou. Mas, observa as duas árvores: a videira ou a figueira e, por outro lado, o espinheiro e os cardos. Cardos e espinheiros também podem, perfeitamente, florescer, no entanto, que frutos produzem? A figueira é uma árvore muito modesta. Ela não se gloria nem se ufana de seus frutos e de suas folhas, e não bota folhas antes que venham os frutos. Antes de a gente o perceber, ela produz frutos. A mesma coisa acontece com a videira. Dentre todas as árvores ela é a menos vistosa e admirável. E sua lenha é seca e fraca. Não obstante, produz uvas mais doces do que todas as outras plantas, enquanto outras árvores se pavoneiam e se ufanam com copas e flores, de modo que se poderia pensar que produziriam puro açúcar. No entanto, nada mais produzem do que frutas azedas e inúteis. O mesmo acontece com eles, diz Cristo, doutrinando, para que ninguém seja enganado. Pois ostentam uma bela aparência e fazem um alarido com a glorificação de obras especiais, como se eles fossem os únicos a fazer alguma coisa. No entanto, depois de caírem as flores, nada mais resta do que pilritos cheios de caroços, que não alimentam ninguém, ou cabeças de cardos que somente picam e arranham quando se toca nelas. Pois, quando medidas no mandamento de Deus, e, se se perguntar se Deus ordenou e estatuiu essas obras e, se estão a serviço do próximo e lhe são úteis, verifica-se que não servem para nada e, apenas, atrapalham os verdadeiros frutos bons. Os outros estados por sua vez, não têm aparência, não têm brilho nem esplendor. Não obstante, produzem os mais finos e os melhores frutos e são da maior utilidade na terra, tanto aos olhos de Deus quanto aos olhos daqueles que são iluminados pelo Espírito Santo.
Por isso pergunta: “Acaso pode-se colher figos dos espinheiros”? para dizer: as flores podem ser muito bonitas, mas espera um pouco para ver o que encontras quando vier o tempo de colher os frutos. Será um grande desapontamento para o povo que esperava grandes e preciosos frutos e que agora nada encontra que pudesse servir de consolo a eles ou a outros e que pudesse usufruir. Além disto, ainda há o prejuízo de que, por essas fantasmagorias provocadas pelo diabo, também é enganada e seduzida a mais elevada razão que não tem a Palavra de Deus e nem a correta compreensão, preferindo seguir suas próprias presunções e devoção, achando que, se agrada a ela, também deverá agradar a Deus, quando deveria ser o contrário: que eu aceite com agrado o que ouço que é do agrado dEle, embora todos os estados divinos tenham desgostos e que, além disto, neles viva muita gente má que estraga estes belos frutos como os ‘vermes danosos’ da vida e fé autoinovadas.
P. Airton Hermann Loeve.
