Jesus Cristo doutrinou dizendo: “Pelos seus frutos os conhecereis. Acaso se podem colher uvas dos espinhos ou figos dos cardos? Assim também toda árvore boa produz frutos bons, mas uma árvore podre produz frutos ruins. Uma árvore boa não pode produzir frutos ruins, e uma árvore podre não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz frutos bons é cortada e jogada ao fogo. Por isso, em seus frutos vós os reconhecereis” – Mt 7.16-20.
Jesus Cristo encerra a Sua comparação com um conhecido ditado que Ele também gosta de usar alhures – Lc 6.43,44; Mt 12.33 – : toda árvore boa produz frutos bons, e uma árvore podre produz frutos ruins, etc. Por que, porém, ensinar isto com tantas palavras? Quem já não sabe isto? Até o cego o compreenderá ao apalpar o arbusto. Será que nos considera tão tolos que não sabemos disto? Pois bem, quem o sabe, que fique com sua sabedoria. Nós, porém, como cristólogos, evangelistas-discipuladores, queremos, sempre, de bom grado, aprendê-lo e permanecer discípulos de Cristo, com fé presente. Pois, como já escrevi, não é uma ‘arte’ tão fácil emitir um juízo, neste ponto, do qual Cristo fala. Esta frase serve para consolar e fortalecer os que se encontram em estados que conflitam com os sentimentos e com as opiniões da razão, ao verem os aborrecimentos que existem neles e que neles acontece muita coisa de ruim, o que deixa muita gente perplexa, considerando-os perigosos e achando que neles não se pode servir a Deus, etc. Também o próprio Sto. Agostinho, combatendo os donatista – defensores de uma disciplina eclesiástica rígida e puritana – se quebrou a cabeça e se torturou com isto, embora fosse um belo e grande doutor que queria ver tudo direito e eliminar o mal dos estados. Eles lhe causaram muita dor de cabeça neste sentido, porque, coerentes com suas convicções, rebatizavam os que foram batizados por sacerdotes, que, no seu juízo, eram sacerdotes ‘indignos’. Aliás, é uma característica de todos os hereges querer expurgar todas as imperfeições e, ao invés, com perdão da palavra, ‘emporcalharam’ tudo. Porque não há como se tornar uma pessoa tão santa, piedosa, pura, que se conseguisse eliminar, por completo, o pecado como condição humana.
Talvez você se questione: mas por que procurar isto na história eclesiástica que está longe de nós? Aqui o temos expresso muito bem e em breves palavras: o estado que Deus criou e ordenou e a pessoa que vive neste estado conforme a Palavra de Deus, essa pessoa não pode produzir nada senão frutos bons. Com isto podes consolar teu coração contra pensamentos como este: oh, foi este ou aquele que me levou para este estado que somente me causa desgosto e encrencas. “Eu mesmo fui tentado muitas vezes e ainda sou tentado neste sentido com referência a meu ministério”, afirmam legítimos, necessários, puros cristólogos, no exercício do ministério da Palavra e Meios do Evangelho. Se não fosse a Palavra de Deus, há muito eu teria parado de pregar e teria dito adeus ao mundo hostil a Cristo, como religiosos autofeitos faziam em tempos passados, refugiando-se aqui e ali na fé de que agindo assim seriam mais puros e agradariam a Deus com certeza absoluta. Isto é obra do vil diabo que dificulta tanto o estado de cada um e que torna a louca razão tão cega que a torna incapaz de reconhecer o ofício e obra que Deus nos impôs e que Lhe agrada de coração como bom fruto de uma árvore boa, estragando, deste modo, inclusive, seu estado e seus frutos. Em si, seria uma árvore boa e um estado bom, mas ela não o enxerga e é um empecilho para si mesmo, de modo que não pode produzir bons frutos, quem se afasta da Palavra e da fé.
