Jesus Cristo doutrinou dizendo: “Pelos seus frutos os conhecereis. Acaso se podem colher uvas dos espinhos ou figos dos cardos? Assim também toda árvore boa produz frutos bons, mas uma árvore podre produz frutos ruins. Uma árvore boa não pode produzir frutos ruins, e uma árvore podre não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz frutos bons é cortada e jogada ao fogo. Por isso, em seus frutos vós os reconhecereis” – Mt 7.16-20.
Em conformidade com a Palavra de Deus e a fé aprende a ver teu estado de acordo com esse dito de Cristo, para que possas concluir: agora eu sei, Deus seja louvado, que estou num estado bom e abençoado, que agrada a Ele, ainda que me aborreça segundo a carne e me traga muito incômodo e desgosto. Tudo isto, porém, quero suportar de bom grado, pois aqui tenho o consolo, quando Cristo diz: “Uma árvore boa produz frutos bons”, e isto vale para todos os estados baseados na Palavra de Deus, ainda que sejam desprezados e desconsiderados pelo mundo e pelos santos autofeitos. Por outro lado, ouço a sentença de que toda árvore podre produz frutos ruins. Por isso, se vês um santo de própria inventiva por mais santo que seja na aparência, se tenha por conscientizado de que é uma árvore escandalosamente podre, embora dê uma impressão maravilhosa e não tenha tanto desgosto e oposição quanto eu, cristólogo reformador da fé e da moral, em Igreja e Sociedade, porque o diabo não lho torna tão amargo e difícil como o faz com os verdadeiros estados cristãos. Por isso, estes estados e estas obras agradam tanto ao povo de consciências engessadas e enlatadas pelo crer, ensinar, confessar e consequente condenar e rejeitar para os quais Cristo não é importante. Mas assim como eu, verdadeiro cristólogo, evangelista existencial de Cristo, não consigo ver em meu estado se meu fruto é bom, tampouco ele consegue ver que seu estado e seus frutos são podres e não têm nenhuma utilidade. Por isso, este dito de Cristo pode ser invertido entre eles, ficando assim: a árvore podre produz bons frutos, e a árvore boa produz frutos ruins, de modo que aqui a razão não tem condições de julgar, nem consegue ver o que há de bom em seu estado e suas obras, nem encontrar prazer neles, e, sim, elogia e enaltece o contrário. Pois se o pudéssemos ver, viveríamos em pura alegria e sofreríamos tudo de coração alegre e suportaríamos o que Deus nos impõe e sobrevém por causa de Cristo e Seu Evangelho, certos de que, sendo boa a árvore, também os frutos haverão de ser bons. Portanto, se uma pessoa cristã, em cuidado com a boa criação de Deus, leva uma carga de esterco para a lavoura, está levando uma carga de preciosos figos e uvas, mas isto assim é aos olhos de Deus, não aos nossos olhos, visto que não cremos, no geral. Por isso, todos se cansam de seu estado e ficam espichando os olhos por outro, sem atentar para a Palavra e à fé.
É isto que Cristo quer dizer com sua conclusão franca e direta: “Uma árvore boa produz frutos bons” e vice-versa. E para dar-lhe ênfase ainda maior, acrescenta pleonasticamente: “Uma árvore boa não pode produzir frutos ruins, e uma árvore podre não pode produzir frutos bons”. Será mesmo? Acaso um empregado e uma empregada ou um pastor ou uma pastora não podem ser espertalhões / espertalhonas? Um homem ou uma mulher não podem cometer adultério? Alguém pode perguntar: acaso uma autoridade secular não pode ser um tirano, e um pregador, um sedutor, conforme disseste acima? Onde iríamos encontrar patifes e vilões senão nos diversos estados e nas diversas atividades? Resposta: infelizmente isso é verdade. Por isso mesmo é necessário dizer e afirmar, em claro e bom som: nesse caso, porém, nenhum deles continua sendo árvore boa, pois abandonaram seu estado e vivem contra o mandamento de Deus. Porque não há como afirmar que o pecado agrada a Ele.
P. Airton Hermann Loeve.
