Jesus Cristo, o nosso SENHOR, disse: “Nem todos que me disserem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos céus, e, sim, os que fazem a vontade de meu Pai no céu” – Mateus 7.21.
Ao falar e doutrinar assim, o único, suficiente, necessário, indispensável Remidor quer dizer com isto que justamente para aqueles que Lhe servem e que enaltecem Sua causa como sendo o culto mais sublime, e que se esforçam com a maior seriedade para entrarem no Reino dos céus, e que pensam que o têm preferencialmente antes de todos os demais – a estes quero fechar o céu. É um julgamento assustador ouvir que ninguém está lançado a um inferno mais profundo do que os grandes servos de Deus, isto é, os autofeitos santos mais santos, que muito brilham na aparência de piedade e temor a Deus, mas que, no juízo dEle, que conhece os segredos e as intenções dos corações, são péssimos em Sua presença. Pois Ele, cujos olhos passam por toda a terra para ver quem é dEle, conhece bem a gente de fé, teologia, culto, piedade sem amparo na Palavra: lei e Evangelho. Eles, no interior, têm fervilhando muita ‘lava’ de ferocidade ciclópica, que, quando vem à tona, não para antes que matam e ainda se fazem passar, com logro e má-fé, por gente que o fez para culto, honra, glória de Deus.
É altamente desejável e recomendável que leiamos o que os maiorais do povo, irredutíveis em sua dogmática, fizeram com Jesus Cristo: como se fizeram culpados nEle! Neste sentido, o diabo, que se alia à carne não regenerada, também cunhou um ditado, zombando de seus próprios santos como um maganão que não consegue esconder sua própria maganice: o inferno está calçado exclusivamente com obras advindas da fé, teologia, culto, piedade autoinovadas. Isto é a mesma coisa que Cristo diz aqui, que os que querem ser os maiores santos não haverão de entrar no Reino dos céus. Por que isto? Porque dizem “Senhor, Senhor’, diz Cristo, mas não “fazem a vontade de meu Pai no céu.” Como assim? Acaso não estão fazendo a vontade de Deus, visto que servem a Deus dia e noite, inclusive, fazendo milagres, como ainda veremos? Que acontecerá com a grande multidão, se estes não haveriam de ser salvos? Resposta: aqui o ouves perfeitamente, dizendo não a isto e mostrando a diferença entre dizer “Senhor, Senhor” e “fazer a vontade de meu Pai”: que se ouça a Cristo com fé presente! Ele diz: não quero aqueles que gritam incessantemente: Senhor, Senhor, e vêm com sua grande devoção sem amparo nas Escrituras, como se eu tivesse que erguê-los ao céu. Eu quero aqueles que fazem a vontade de meu Pai. Eles esperam e têm a pretensão de que não, apenas, eles entrarão no céu, mas que, também, levarão para o céu outras pessoas com o exercício do ministério de modo puro, correto, legítimo, necessário. E que, por graça divina, mediante a fé em mim, por ação do Espírito Santo, estarão sentados nos ‘lugares mais altos’ e que receberão coroas especiais, etc. As pessoas de temor a Deus e piedade autoproduzidas se gabam desafiadoramente: acaso um que galgou muitos méritos, dignidades, boas obras não mereceria mais e não haveria de ocupar uma escala mais elevada no céu do que um simples leigo ou uma esposa de alguém que fielmente cuida do ministério da Palavra e Meios do Evangelho, como pregador cristólogo, faxineiro da fé e da moral, em Igreja e Sociedade?
As pessoas de fé, teologia, culto, piedade autoinovadas, quando questionadas, logo logo retrucam dizendo, legítima encarnação da maldade: afinal, que está fazendo tal e tal pessoa com sua vida religiosa rigorosa? Mas aqui não se diz que piedosos autofeitos ou servos de Deus autoproduzidos entrarão no céu, e, sim, os que fazem a vontade de Deus, em resposta do ouvir da Palavra, com fé presente. Porque usar roupas autotidas como piedosas ou ter costumes religiosos autoinovados e fugir do convívio das pessoas e correr para um local autossignificado mais santo, não significa, sob hipótese alguma, fazer a vontade Deus.
P. Airton Hermann Loeve
